segunda-feira, 28 de maio de 2012


A PEDINTE (livro em construção)


Ao Ivan.


Prólogo
Aprendendo depois da Escola


Eu nunca fui bom em aprender numa escola.
Como a maioria dos meninos eu aprendo só o que não presta. Ou o lugar me ensina algo doloroso. Um garoto como eu não deveria freqüentar a escola. Porque eu incomodo os outros garotos.
Pode ser ilusão da minha cabeça. Eu fiz uma pesquisa na internet, pouco depois de pesquisar a palavra “bullying”. Pesquisei os transtornos sociais que uma pessoa pode desenvolver desde pequena – pois desde pequeno tenho peculiaridades que outras pessoas não desenvolveram tão cedo - e descobri um nome. Asperger. Devo ter isso.

“ Pessoas com Síndrome de Asperger podem vir a ter muitas dificuldades em sua vida social, devido ao motivo de portadores dessa patologia psicológica ser incapazes de discernir quando alguém está falando através de figuras de linguagem ou em sentido denotativo. A Síndrome de Asperger – homenagem a Hans Asperger – é uma síndrome que deriva do espectro autista, diferenciando-se do autismo pelo fato do paciente não ter absolutamente nenhum sinal de possível retardamento intelectual. Muito ao contrário; os aspergers apresentam desde cedo um intelecto invejável e uma imaginação e capacidades criativas fora do comum.
Sendo mais comum no sexo masculino, as pessoas pertencentes a essa grupo tem dificuldade de expressar e interpretar expressões verbais e não verbais que sugerem emoções, muitas vezes pensando que as pessoas estão as odiando quando na verdade não ligam muito para elas ou imaginando que as pessoas estão felizes ao ouvirem eles falando algo que lhes desperta interesse, quando na verdade estão entediadas e aborrecidas com eles. Devido a esse fator, eles têm uma dificuldade bastante visível em relacionamentos amorosos e sexuais, chegando até mesmo ao ponto de alguns deles desistirem de procurar se encantar ou encantar alguém, não se relacionado e ficando sós pela vida inteira. Apesar de todas as dificuldades sofridas em silêncio, os aspergers podem ter a vida adulta relativamente normal.
A dificuldade de relacionamento gera em 90% dos casos no afastamento social muito próximo, o que faz com que as outras pessoas pensem que eles são indivíduos mal humorados, egoístas, orgulhosos e sem simpatia – ou até mesmo empatia. Isso torna os contatos sociais ainda mais difíceis e distantes.
Aspergers sentem empecilhos ao se envolverem socialmente, evitando pessoas conhecidas na rua por exemplo. Devido a isso, vários deles desenvolve sociofobia, ou fobia social. Também sentem dificuldade de mudar algo em sua rotina e podem desenvolver manias repetitivas e comportamentos estereotipados, junto com uma cognição normal ou alta. Na infância possuem grande curiosidade e sede de saber e desenvolvem adaptação a ocasiões que não envolvam esforço social. São bastante racionais, apesar de emocionais, ainda que introspectivamente.
Eles raramente olham nos olhos de uma pessoa, e quando olham sempre se perguntam o que a pessoa está pensando a seu respeito no momento. Por vezes são rudes, grosseiros e egocêntricos, não percebendo que seu comportamento não condiz quando ele faz com quem ele faz e onde ele faz. Se – e isso ocorre com bastante freqüência - a fobia social se desenvolver, ele começa a temer feria as pessoas de algum jeito, e também teme ser ferido. Isso o faz evitar situações sociais, e desenvolvem uma autocrítica elevada, levando a idéias que o sugere pensar que é uma pessoa inferior às outras. Devido a isso tudo que foi dito até agora – a todo isso que se passa na cabeça do asperger – ele pode chegar a ter exaustão mental, causada literalmente por pensar demais, e pensar com sentimentos negativos – receio e medo, por exemplo.
Comportam-se hora como adultos, hora como crianças, variando aleatoriamente. Pessoas que observam a aflição que alguns aspergers têm de achar que estão sendo inadequados para a sociedade os julgam erroneamentecomo paranóicos.
Por vezes os aspergers não possuem o dom de entender o outro ponto de vista de uma conversa, ou discussão, e se percebem que estão errados, não sentem, em grande parte das vezes, remorso. Por isso são julgados como seres com orgulho acima do normal – principalmente devido ao seu nível cognitivo, que pode ser alto. É importante lembrar que eles agem sim grosseiramente, mas na maioria das vezes não tem a mínima intenção de ofender a ninguém. São muito comumente pacíficos e abominam atos de violência.
Fazem tudo como acham melhor, para viver melhor. Não tem senso de moda, por exemplo, e se são criticados pelo seu visual ou pelo seu modo de vida, buscam não se ligar a palpites, pelo fato de já estarem acostumados a serem sedentários e excluídos. Por usarem mais a razão do que a intuição, pausas constrangedoras podem ser vistas feitas por eles, só para tentar entender as emoções de uma pessoa diante deles. Reagem de forma intensa às emoções – e isso os faz quase que serem o oposto dos psicopatas, que não tem emoção e demonstram reações falsamente - mas demonstram isso exteriormente de modo muito limitado. Infelizmente, por um mal entendido até mesmo pela ausência de um diagnóstico, o jeito isolado e aparentemente frio dos asperger pode causar problemas familiares. O diagnóstico da Síndrome de Asperger é complexo de ser realizado.
Os aspergers não têm qualquer tipo de prejuízo na linguagem – tendo alguns deles até certa peculiaridade no próprio vocabulário, pois não raramente eles se refugiam grande parte do tempo em livros - a menos que sejam expostos a situações sociais do qual eles não estão acostumados.
Os aspergers são, em sua maioria, atentos com o mundo interior e desatentos com o mundo exterior. Devido a isso, são detalhistas com elementos e não compreendem o conjunto. Tem interesse em focos bastante específicos, mas são desinteressados em assuntos comuns. Memória fotográfica – a chamada memória eidética – pode estar presente.
Uma peculiaridade interessante é que praticamente todos os aspergers têm caligrafia quase ilegível. ”

Eu disse que devo ter isso porque senti que tinha lido minha autobiografia quando terminei o texto. Ok era um texto da internet, e ok era um auto diagnostico que poderia estar errado, mas e daí. Eu estava naquele texto… é como se ele fosse assinado com Saulo no fim.
Saulo. Meu nome. Diferente, por vezes acreditava eu - eu era o único na 5ª série com esse nome - mas ainda sim achava comum. Não sei porquê essa sensação. Não sou bom em sensações. São legítimas, porém, sempre se enganavam. Por exemplo, por que estou falando sobre meu nome quando na verdade deveria falar sobre os meus “coleguinhas” de sala e suas brincadeiras idiotas?
Mas minha mãe... era diferente. Quando eu não conseguia fazer o que ela queria, para ela era sempre porque eu não estava com vontade. Nunca era porque eu não sabia fazer. Mesmo assim, ela era um dos poucos motivos que eu tinha para continuar freqüentando o colégio.
Todos os dias eu percorria o mesmo caminha, via as mesmas pessoas, passava pelas mesmas ansiedades e dava bom dia para os mesmos motoristas de ônibus. Aliás, eu era o único da cidade que fazia essa última parte. Sentia os mesmos olhares observando meus óculos de “fundo de garrafa” desgastados, meu nariz achatado, meu cabelo castanho bagunçado e meu visual nada atraente. Metade das garotas atraentes da minha sala também fazia isso. A outra metade praticava bullying comigo.
Todos os dias eu conversava com as mesmas pessoas nesse trajeto – comigo mesmo e com o Saulo – e cada vez mais percebia como as gripes que eu pegava eram mais freqüentes. Complicado. Os professores não deixavam ir ao banheiro durante as aulas. Eu sempre esperava o horário do recreio para assoar no nariz. Se fizesse isso na sala, a risadaria era incontrolável.

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